domingo, 17 de agosto de 2008

dia dois
























Não conseguia acreditar naquele engarrafamento: abria e fechava o sinal, e a porcaria dos carros não andava !

O tempo cronometrava feito uma máquina desgovernada em seu peito, palpitava desespero. Parecia que a explosão do motor do carro, era dentro e em poucos minutos iria explodir tórax afora.

Sem pensar, estacionou na rua Desenove de Fevereiro e correu. Correu com todas as suas forças. Às vezes falava sozinha: "puta que pariu, que caralho, fudeu", "ai, não acredito nisso, tô ferrada", "trânsito de merda, daqui à pouco isso aqui vai virar São Paulo. " Às vezes pedia ajuda a Deus: "socorro, deusinho querido, me ajuda". Não conseguia raciocinar, se o fizesse, teria pedido ajuda a alguma pessoa.

Sentia-se louca de calça jeans, terninho, sapato social correndo entre o meio fio e a rua. Mas não tinha tempo pra refletir sobre isso, inspirava pelo nariz e soltava o ar pela boca, numa concentração absurda. Não via mais carros, fumaça e gente, nem ouvia suas buzinas agudas. Daquele cenário só via luzes e ouvia a marcação dura, de um pulso que expandia do centro de seu corpo, pra cima e pra baixo, simultaneamente - pernas e cabeça. Ganhava uma terceira dimensão, uma profundidade, fora de si, como se seu ritmo imprimisse no mundo uma via única - sempre pra frente.

Seguramente ia mais rápido que os carros, estupidamente parados no trânsito da Mena Barreto. Foram os trinta minutos mais desesperados da sua vida, corria para continuar vivendo, corria para se salvar.

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