domingo, 4 de janeiro de 2009

meio-dia

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Passados dez meses escrevendo cartas de amor,
Irene perturba-se e se pergunta se está predestinada
a amar as cartas, uma espécie de romance particular; ou
se dá as mãos de verdade, balança-as junto, sente
o toque na mão e a mão no toque.

Irene ama as cartas de amor porque é muito mais bonita
nelas que em real espelho. Fica linha em dobraduras de pano
e renda, fica franzida numa prega de saia, descobre-se ávida,
bicho, beira de rio, uma graça de flor, é de terra alguma nessas cartas !
Essa sensação a engrandece, Irene se sente livre.
Mas passados dez meses, já não se sentia livre, sentia-se um tanto confusa:
amava as cartas ou o sujeito da correspondência?

Até que ele veio, aquilo não tava certo. Quase
prestes à morte súbita da dúvida e da distância, o amor veio cheio
de imperativos, veio na presença forte do solão de meio-dia.
Deu confusão na fábula que não tinha final feliz, pelo simples motivo
de não ter fim. No entanto, a colocou pra caminho, cem mais terras.

As dúvidas se mantém, sempre vestidas de alguma roupa estranha...
Certeza, só uma:

As cartas de amor são ridículas, bregas. "Não seriam
cartas de amor se não fossem ridículas"


Irene está feliz e com vergonha.

3 comentários:

Clara Cavour disse...

lindo, lindo

Luisa Coser disse...

minina franzida de mots d'amour!!
é brega mais é bom...
tbm as recebo. é bom se deparar com a a recuperaçào da inocência e do romatismo franceses...
oxiii

Mariana Kaufman disse...

FODA!!!!!
IRENE SORRI ENVERGONHADA
ESCANCARA, IRENE, VIENE, RI TORTA...